22.9.07

A vivência do luto nas diversas confissões religiosas

A Cecilia Caldeira e a Antónia Craveiro estão a organizar, com um grupo de pais que também experimentaram a partida de um filho, um colóquio sobre "a vivência do luto nas diversas confissões religiosas", com a participação da Comunidade Israelita, da Igreja Católica, da Comunidade Muçulmana e da União de Budistas.

O colóquio realizar-se-á no dia 13 de Outubro de 2007, no Centro de Apoio Social de Oeiras - Rua Dom Duarte, 2 (junto ao Liceu de Oeiras e estação do comboio/fundição).

O programa é o seguinte:
15h - Introdução e apresentação;
15h15m -Representantes confissões Religiosas;
16h15m - Testemunho de três Pais;
17h - Debate;
18h - Final e Coffe-Break;
18h30m - Momento musical com Raquel e Carlos Fernando.

Haverá, também, uma exposição de pintura e uma mostra e venda de livros.
Os contactos e as inscrições poderão ser feitos para Cecilia Caldeira (Tlm. 914593690) e Antónia Craveiro (Tlm. 965639322).
Este encontro poderá ser um espaço importante de abertura a formas diferentes de vivência do luto e também de reencontro entre nós e com outras pessoas.
Quem puder, não falte.
A Antónia e a Cecília pediram que todos passem palavra e ajudem a divulgar esta iniciativa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Se puder, irei. Ainda não sei bem, pois, ainda não sei bem o que fazer com a vida, depois que ela partiu.
Tento levar o dia-a-dia de forma natural e fazer tudo quanto fazia antes, mas...falta qualquer coisa. Qualquer coisa que sei bem o que é. Falta ela. Falta a sua coragem de viver, o seu sorriso, as suas palavra de incentivo e de elogio. Falta-me alguém que me diga e me e mostre a importância que tenho para si. Ela tinha tanto orgulho em mim...É por esse orgulho e esse imenso amor que queria "ir para a frente", cada vez mais e cada vez melhor. Fazer tudo o que ela ficou impossibilitada de fazer. Fazer tudo a duplicar e melhorar continuamente... viver intensamente e "aperfeiçoar-me" no ser e no fazer. Por vezes, sinto-me culpdada, com remorsos, com quase nojo de mim própria. Como é possível eu correr, eu ver, eu rir, eu comer, eu...tanta, tanta coisa...e ela? Ela não conseguiu fazer quase nada e agora partiu deixando uma vida de sonhos por concretizar e projectos inacabados.

Por isso, nem sei se irei. Falta-me quem me "puxava" para a frente e me fazia sair de casa.

Desculpem este desabafo.

Um beijinho a todos os pais unidos na mesma dor, a todos os irmãos que ficaram sem as suas "manuchas" e a todos os maridos a quem a vida "roubou" uma vida a dois.

RH disse...

Aconselho a leitura deste artigo:

http://dr-hugo-jorge.blogspot.com/2007/10/o-luto.html

Hugo Jorge
http://dr-hugo-jorge.blogspot.com/

nome do grupo disse...

No sentido de facilitar a vida àqueles menos habituados aomundo da net reproduzo o texto sobre o luto do Dr. Hugo Jorge.
O luto é uma experiência angustiante mas comum. Mais cedo ou mais tarde, a maioria de nós vai sofrer a perda de alguém próximo. No entanto, no nosso dia-a-dia falamos e pensamos muito pouco acerca da morte, talvez porque hoje em dia nos deparamos com ela com menos frequência do que os nossos avós. Para eles, a morte de um irmão ou irmã, amigo ou familiar era uma experiência comum nos seus primeiros anos de vida ou durante a sua adolescência. Para nós, estas perdas acontecem geralmente mais tarde na nossa vida. Talvez por isso não tenhamos a hipótese de aprender a lidar com o luto - como nos faz sentir, o que devemos fazer, o que é "normal" acontecer - e de o aceitar.

O processo de luto dá-se sempre que há uma perda, mas principalmente depois da morte de alguém que amamos. Não se trata de um único sentimento, mas de um conjunto de sentimentos que necessitam de algum tempo para ser resolvidos e que não devem ser apressados. Apesar de sermos todos diferentes, a forma como experienciamos o luto é muito semelhante na maior parte de nós. Embora o luto se dê geralmente depois de perdermos alguém importante que conhecíamos há algum tempo, o mesmo poderá surgir noutras ocasiões, como por exemplo depois de um aborto, com o nascimento de um nado morto ou quando perdemos um filho muito precocemente.

Nas horas e dias seguintes à morte desse outro importante, a maioria das pessoas passa por uma fase de descrença, ficando totalmente "atordoadas", como se não pudessem acreditar no acontecido. Mesmo quando a morte era esperada, este sentimento pode surgir. Este sentimento de torpor ou dormência emocional pode ajudar a levar a cabo todas aqueles procedimentos burocráticos inerentes a este processo, mas pode tornar-se num problema se continuar a subsistir. Ver o corpo da pessoa falecida pode, para alguns, ser um modo importante de começar a ultrapassar tudo isto. Da mesma forma, para algumas pessoas, o velório e o enterro podem ser situações onde a realidade começa a ser encarada. Apesar de ser difícil lidar com estas situações, o facto é que elas constituem um modo de dizer adeus àqueles que amamos. Na altura, estes acontecimentos podem parecer demasiado dolorosos para que sejam vividos, mas o facto é que fugir aos mesmos pode levar a um arrependimento tardio.

Depois desta fase de "torpor", poderá surgir um período de grande agitação, ansiedade e ânsia pelo que foi perdido. Surge o sentimento de querer encontrar essa pessoa seja de que maneira for, mesmo que tal seja impossível. Por isto, a pessoa começa a não conseguir relaxar ou concentrar-se e o sono pode ser perturbado. Os sonhos que surgem nesta altura podem ser muito confusos e algumas pessoas chegam mesmo a "ver" quem perderam, na rua, em casa e em todo e qualquer lado que os faça lembrar a primeira. Com muita frequência, a pessoa em luto sente-se muito zangada e revoltada - contra médicos e enfermeiros que não conseguiram impedir a morte que agora lhe pesa, contra os amigos e familiares que nunca deram o seu máximo ou mesmo contra a pessoa que perdeu e assim a deixou.

Outro sentimento comum é o sentimento de culpa. Nesta altura, começam a pensar em tudo aquilo que podiam ter feito ou dito e que já não tem retorno ou mesmo naquilo que podiam ter feito para impedir essa morte. Naturalmente que a morte é geralmente um acontecimento que está para além do controlo seja de quem for e a pessoa em luto deve ser recordada disto mesmo. A culpa também pode surgir depois de se sentir alívio pela morte de alguém que nos era muito querido mas que sabíamos estar a sofrer. Este sentimento é normal, compreensível e muito comum.

O estado de agitação referido atrás é geralmente mais forte nas duas semanas que se seguem à morte do ente querido, mas segue-se rapidamente de períodos de grande tristeza e depressão, retiro e silêncio. Esta mudança súbita de emoções pode deixar amigos e familiares confusos, mas faz parte do processo natural de luto.

Apesar da agitação começar a cessar, os períodos de depressão tornam-se mais frequentes e atingem o seu máximo passadas quatro a seis semanas do sucedido. Crises de choro e angústia intensa podem surgir a qualquer momento, sendo habitualmente despoletadas por pessoas, sítios ou acontecimentos que fazem lembrar quem se perdeu. Algumas pessoas podem não conseguir perceber estas crises ou ficar sem saber o que fazer quando isto sucede. Poderá haver uma tendência da parte da pessoa em luto para evitar as outras pessoas mas isto pode trazer problemas futuros e, por isso, será melhor que volte à sua "vida normal" o mais rapidamente possível. Durante este período, pode parecer estranho aos outros que a pessoa em luto passe muito tempo sentada, sem fazer nada, mas o facto é que ela estará a pensar em quem perdeu, recordando constantemente os bons e os maus períodos que passaram juntos. Esta é uma fase silenciosa mas essencial à resolução do luto.

À medida que o tempo passa, a angústia intensa resultante do luto começa a desaparecer. A depressão atenua-se e será possível finalmente começar a pensar noutros assuntos e até em projectos para o futuro. No entanto, o sentimento de perda nunca desaparecerá por completo. Depois de algum tempo, deve ser possível sentir-se de novo "completo", apesar de faltar sempre uma parte de si que nunca será substituída.