15.7.07

Notas da intervenção de Frei Bento Domingues no Encontro

As Raízes da Esperança

Leitura do Texto: “le Mystère des Saints Innocents” Charles Péguy (ver no blogue "a nossa Esperançazinha")

‘Fechar a torneira do sofrimento’:
- Ao nível do nosso sistema neurológico não é possível deixar de pensar porque o cérebro humano está sempre a funcionar, mesmo durante o sono.
- Quando pensamos no nosso sofrimento pensamos “no que foi e não deveria ser”. Podemos começar a pensar a partir de: “o que nunca foi e pode vir a ser”.
A Paixão = aquilo que nos afecta
- A todos os níveis, não só ao nível dos afectos: tudo o que nos afecta
- As paixões como formas de resistir àquilo que nos ‘estraga’: uma das funções do nosso psiquismo é a de resistir.
Vivemos no desejo:
- Somos limitados. Mas gostaríamos de ser…; de ter…
A Esperança:
- A Esperança é para as situações difíceis: é desejar um bem que é difícil de atingir
- É sabermos o quanto precisamos de sair do desespero e combater
- É a virtude contra o desespero: ‘sair da fossa’, lutando.
- O que é o desespero: é partirmos do princípio que estamos derrotados. Não estamos. Se estamos vivos estamos para a luta.
Como aprender este viver com Esperança?
- não existe muita bibliografia mas existe muita biografia: muitas histórias diferentes de muita gente. Exemplo: os relatos dos presos nos campos de concentração mostram que temos muito mais força do que aquilo que pensamos.
- O sentido da compaixão (com-paixão)- o sentido cristão aproxima-se muito do sentido budista: sofrer uns com os outros e, ao mesmo tempo, combater uns com os outros. Necessitamos de nos sentir uns com os outros e de dar forças para lutar.
Como enfrentar os males que nos afectam?
- Há muita teorização sobre o Mal mas essa teorização não ajuda. Também se fala muito dos males do mundo mas é completamente diferente ser um mal de outros ou ser o meu mal – “sinto-me mal”. Este é o que interessa. “Com os males dos outros posso eu bem”.
- O que importa é fazer um “Nós” – fazer um caminho de construção do Nós – vivemos para os outros e dos outros.
- Neste caminho o que podemos encontrar: não os ‘porquês’ mas algumas respostas para:
- Como vou ser capaz de resistir aos males que me afectam?
- Como vou superar?

Uma passagem do Evangelho que a mim me diz muito, a este respeito – por acaso do Evangelho que lemos hoje (S. Lucas, capítulo 10)
- Jesus tinha mandado os setenta e dois discípulos evangelizar. Eles voltam muito contentes porque conseguiram realizar muitas coisas. Jesus também se mostra contente, diz que ‘correu bem’: “Escutai! Eu dei-vos o poder para pisarem cobras e escorpiões e vencerem a força do inimigo sem que vos aconteça mal. Mas depois acrescenta: “Mas não vos alegreis porque os espíritos maus vos obedecem. Alegrai-os antes porque os vossos nomes estão inscritos nos céus”. (Lc 10, 19-20)
- Os vossos nomes… = a vossa pessoa toda
- … estão inscritos nos céus= está no coração de Deus.
- Jesus deu-se conta disto. Na cruz, no mais atroz dos sofrimentos e da solidão, diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46).
O que significa “estar no coração de Deus”?
- A Pessoa nunca acaba – a sua personalidade estará sempre viva.
- Assim, a revelação é darmo-nos conta que a nossa vida acontece em Deus. A este respeito S. Paulo diz: “Nele existimos, vivemos e nos movemos”.
- É o amor que nos faz existir – existimos porque somos amados.
- A morte, pelo contrário é não haver reciprocidade.
- O problema das missas dos defuntos é que nós não rezamos pelas pessoas que amamos. Rezamos com as pessoas que amamos.
- Elas estão lá, estão comigo e são mais verdadeiras do que eu
- E quem preside à celebração é Jesus Cristo.

O problema da nossa fé e esperança está no sofrimento:
- para os cristãos a cruz é o símbolo da vida truncada e ao mesmo tempo a negação dessa vida truncada, o ‘Não!’
- os que chegam ao desespero são os que mais amavam a vida e não conseguem aguentar a ‘desvida’.

Qual a raiz da Esperança?
- A Raiz da Esperança : dê por onde der, somos amados
- Como regar esta raiz?
- A única forma de regar essa raiz - a esperança - é a oração.
Como rezar?
- Cada um reza como pode
- saber criar disponibilidade interior para a renovação da nossa esperança
- A oração é esse tempo que dedicamos a sabermos que somos amados e a sabermos que os nossos estão num reino de Luz
- Pedir a ajuda dos nossos, dos que amamos? Por que não? Deixemo-los entrar na nossa vida presente. É que o amor é a única coisa que nos ajuda. Se eles estão no amor de Deus, eles é que nos podem ajudar. São ‘especializados’ em cuidar de nós, em tratar da nossa alegria.
- Porquê?
- Porque nós nascemos por causa da alegria.


Notas de: Mimi Paes e Luís Wemans
Convento das Monjas Dominicanas do Lumiar

Lisboa 8 de Julho de 2007

2 comentários:

nome do grupo disse...

O vosso blog é mais do que bom. Só peço para insistir nisto: a virtude da esperança é a força para lutar pelo bem difícil de atingir, mas possível por nossos recursos ou com a ajuda dos outros, ou do Outro, de Deus. Lutar pelo bem ou resistir ao mal ou às ameaças. É nesse sentido que é chamada a virtude dos impossíveis.

Um abraço para todas e todos
Frei Bento

Mimi disse...

Sim, Frei Bento, que síntese!
É bom e inspirador. E que bonita a expressão: a vitude dos impossíveis!

Ainda a propósito da nossa capacidade de resistir, de lutar:
encontrei esta frase de António Lobo Antunes que me fez pensar:

"enquanto formos capazes de nos indignar e comover, tenho a certeza de que resistiremos."

É bom indignar-se e é muito bom conseguirmos comover-nos... e também sentir que há um colo, alguém a quem se pode confiar, entregar tudo isso, não ficarmos fechado sobre a dor, sobre a nossa angústia... Liberta.

Bem haja!
Mimi