22.9.07

Não deixarei morrer quem caminhou comigo

Não posso negar o que vi, o que cheirei, que senti, o que amei. Não posso negar que fui feliz, se fecho os olhos e sinto outra vez todos os instantes felizes.
Não, não posso negar que atravessei rios contigo, que te ensinei o nome das estrelas, que ouvimos juntos os pássaros e o vento nas árvores, e caminhei pelas ruas de mãos dadas contigo e que houve outros momentos que não foram felizes mas que, mesmo então e mesmo ao longo dos corredores dos hospitais, havia uma luz ao fundo e essa luz indicava o caminho.
Enquanto me lembrar, estarei vivo, porque esse é o mais certo indício de vida. Eu estarei vivo e, vivendo, não deixarei morrer quem caminhou comigo, ao longo do caminho.
Miguel Sousa Tavares, “Não te deixarei morrer, David Crockett

Gravura de Catarina Castel-Branco, Geografia Primeira

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